O filme

Documentário de longa-metragem, Democracia em Preto e Branco trata de um período de sonhos, utopias, conquistas e desilusões: a abertura politica do Brasil no inicio dos anos 80, tendo como linha narrativa a luta por eleições diretas para presidente, a geração Rock Brasil e o revolucionário movimento conhecido por “Democracia Corintiana”.

Incentivando o filme

Boa parte do filme já foi rodada em 2010 e estamos atualmente captando fundos de maneira inovadora para realizar a segunda e derradeira bateria de filmagens com personalidades como Rita Lee, Lobão, Angeli, Lula e Fernando Henrique Cardoso no segundo semestre de 2011. 
Democracia em Preto e Branco faz parte de uma leva de obras de diferentes áreas que estão abertas para o investimento de pessoas físicas ou empresas. Qualquer indivíduo ou instituição pode investir no filme através de um mecanismo de financiamento coletivo no qual muitos podem contribuir com pouco em troca de contrapartidas predeterminadas e que permitirão que o filme seja concluído. 
As doações variam entre R$10 e R$200 e, além da feitura do filme em si, todos são recompensados com itens como DVD, camisa, cartaz autografado e até estágio no filme. O mais legal é que o dinheiro só sai da conta caso consigamos atingir o valor que precisamos no tempo estipulado. Se isso não acontecer, o valor do incentivo não é debitado. Tudo está detalhado na nossa página do site do incentivador:
http://www.incentivador.com.br/projeto/cinema/democracia-em-preto-e-branco/103

Democracia Corintiana é o ponto de partida de documentário em fase de produção


Fábio Juppa


Os riffs de guitarra da introdução de "Inútil", do Ultraje a Rigor, misturados à narração original de Osmar Santos reavivam com toda força no espectador a emoção do gol de Sócrates que decidiu o Campeonato Paulista de 1983. Mas futebol é apenas um dos vértices do triângulo que deu origem à "Democracia em preto e branco". Em fase de produção, a ideia do filme é explorar, com olhar pontual sobre a "Democracia Corintiana", a convergência deste com outros movimentos, o nascimento do Rock Brasil e as Diretas Já, detonadores da efervescência da primeira metade dos anos 80, quando tudo no país era uma questão de política, música e, claro, futebol. 

- O ponto de partida foi a Democracia no Corinthians, onde se tinha poder de escolha quando todo mundo lutava por isso - explica o diretor e produtor Pedro Asbeg, que tem a parceria de Gustavo Gama na empreitada. - A história era forte, não dava para descontextualizar do que acontecia no restante do Brasil. 

Filho do cineasta José Carlos Asbeg, diretor de "1958, o ano em que o mundo descobriu o Brasil", que narra a saga do primeiro título mundial da seleção, em campos suecos, Pedro sempre foi um apaixonado por cinema e futebol. Rubro-negro fanático, para unir o útil ao agradável ele fundou a "Raça Filmes", pela qual produziu vários curtas. São dele "Rondinelli, o Deus da Raça", "Caçador de Marajás", sobre o ex-atacante Bujica, que veio ao Rio com tudo pago por um grupo de amigos, revisitou a Gávea e ganhou até bolo de aniversário, e "Dogão Calabresa", que mostra o que acontece do lado de fora de um estádio em dia de jogo, filmado nos arredores do Morumbi no dia da final do Campeonato Brasileiro de 2002, entre Santos e Corinthians, aquele das pedaladas de Robinho. Agora, Pedro quer levar para a telona uma história recheada de casos inimagináveis no futebol de hoje. 

- No Corinthians, votava-se tudo, desde a contratação de um jogador, como aconteceu com o Leão, até se a delegação pararia na estrada para jantar ou seguiria para São Paulo após um jogo de meio de semana no interior. A democracia corintiana foi algo fantástico - diz. 

Por enquanto, somente a primeira fase do projeto foi concluída e deu origem a um trailer de quatro minutos, com muitos gols, música e imagens de comícios que na época reuniram figuras proeminentes da cultura, do esporte e da política na luta pela aprovação da emenda Dante de Oliveira, por eleições diretas para presidente. A segunda rodada de entrevistas e a edição final, no entanto, terão de esperar. Por se tratar de uma produção independente, Pedro está à procura de investidores que lhe possibilitem concluir o filme. Toda a primeira fase, que incluiu ida a São Paulo e contratação de uma equipe para gravar depoimentos de personagens como Sócrates, Casagrande e o roqueiro Roger Moreira, foi bancado do próprio bolso por Pedro. 

Como, além dos custos de produção, a montagem depende de imagens de arquivo, cujo minuto custa, em média, R$ 2,5 mil, a saída foi inscrever "Democracia em preto e branco" num site que abriga projetos de financiamento coletivo ( www.incentivador.com.br ). 

Pedro precisa de R$ 20 mil em até 90 dias, prazo permitido para exposição do projeto no site. Já se passaram 12 e ele arrecadou R$ 4.655,00:
- O dinheiro só sai da conta do investidor caso a soma necessária seja alcançada. Aqueles que contribuírem têm contrapartida do projeto. Está tudo no site. 

Fábio Juppa

O "Cidadão Boilesen" e a democracia corintiana


por Lúcio de Castro

http://espn.estadao.com.br/luciodecastro/post/192348_O+CIDADAO+BOILENSEN+E+A+DEMOCRACIA+CORINTIANA

“Certas canções que ouço/cabem tão dentro de mim/que perguntar carece/como não fui eu que fiz”? Perdi a conta de quantas vezes já me peguei fazendo a mesma pergunta que Milton Nascimento e Tunai fazem com muito mais poesia nos versos de “Certas Canções”. Tenho o sobressalto sempre que vejo um belo verso, música ou mesmo ideia que expressam exatamente o que gostaria de dizer. Não tirei da cabeça tais palavras ao ler o antológico texto de Pedro Motta Gueiros no Globo sobre a destruição do Maracanã. Mas por deformação profissional, sinto os versos calarem fundo mesmo quando deparo com alguma grande reportagem ou documentário que adoraria ter feito. Como não tive a ideia? Como não fui eu que fiz, repito os poetas.

Fiquei estatelado na cadeira do cinema quando acabou “Cidadão Boilesen”, um dos maiores documentários que já vi. Por tudo. Pela história, pela edição ágil, pelos depoimentos, mas acima de tudo pelo monumental trabalho de reportagem de uma turma que tinha nomes como Chaim Litewski e Pedro Asbeg.
Com minúcias, apuração impecável, contam a história do dinamarquês Henning Boilesen. Um nome sinistro de nossa história, que lamentavelmente chegou a virar rua em São Paulo.

Boilesen é parte ativa e importante de uma das mais páginas mais infelizes e sórdidas de nossa história. Presidente do grupo Ultra, da Ultragaz, era atuante no grupo de boa parte do empresariado de então, anos 60 e 70, que financiava grupos de repressão e tortura no Brasil, ação conhecida como Operação Bandeirantes, a OBAN. Muitos dos que pingaram na caixinha da OBAN, e respondem por sangue na história do país estão por aí, ainda em funções representativas e posando de bacana na nossa sociedade, apesar das mãos e consciências sujas.

Acho sempre curioso quando se trata de um assunto como esses e alguém fala em “revanchismo”. Até onde a semântica aponta, “revanchismo” seria pregar e querer a tortura de quem torturou. Contar a história desses monstros ou querer, como fazem os demais países do continente, que se julguem os crimes cometidos, é apenas passar nossa história a limpo. Pior ainda é quem fala em “guerra” entre dois lados para justificar atos bárbaros e inomináveis, quando estamos falando em tortura, a máquina do estado usada ao arrepio da lei. Que guerra é essa?

Mas Boilesen ia além desses facínoras disfarçados de bons empresários e chefes de família que financiaram a tortura no Brasil. O minucioso trabalho do documentário (disponível nas locadoras) mergulha na mente do psicopata e em sua vida, mostrando que o respeitável empresário não só financiava a tortura, como fazia questão de presenciar e fazer parte da tortura, se deleitando com a barbárie. Espetacular, o filme vai até à Dinamarca, e descobre na escola onde Boilesen estudou que o menino (é, até os monstros foram crianças um dia) já apresentava sinais de se deliciar com o sofrimento alheio desde o primário. Está na ficha escolar de Boilesen. É reportagem de primeira linha, histórica, não por acaso tendo ganho o festival “É Tudo Verdade, 2009”.

Lembrei do primor que é “Cidadão Boilesen” (alô, Márcio Guedes, recomendo muito!) porque vários assuntos correlatos estão na ordem do dia. O surreal debate em torno da novela “Amor e Revolução”, do SBT, condenando o autor por levar tal assunto para a dramaturgia, em mais uma tentativa de se varrer o assunto para baixo do tapete, ou as não menos espetaculares matérias do grande Chico Otávio no jornal O Globo.

Mas acima de tudo lembrei do “Cidadão Boilesen” ao saber que o jovem e talentoso diretor Pedro Asbeg está em mais uma empreitada no cinema. Lutando para contar a história da Democracia Corintiana. Nesse nosso futebol, cada dia mais infestado de cartolas picaretas e assolado pela pausteurização dos discursos de jogadores, contar a história daqueles dias, daquele sonho de democracia corintiana em plena reabertura, conquistada com tanto sangue como vimos, é definitivamente um serviço prestado notável. “Democracia em Preto e Branco” se encontra em tempo de captação, e inaugura uma forma criativa, de doações pequenas de pessoas físicas, que podem ir em www.incentivador.com.br/projeto/cinema/democracia-em-preto-e-branco/103 saber o que está sendo feito, tomar parte disso. A causa e o currículo dos envolvidos no projeto merecem uma clicada.

De qualquer forma, é bom saber sempre que nesses tempos cinzas que se anunciam no Brasil, de restrições com a liberdade de imprensa, achatada pelo poder econômico dos que montaram o Circo-2014, de estado de exceção onde um rolo compressor vai passando pelos mais humildes em remoções criminosas de residências, ainda se produz coisa com qualidade e dignidade.


por Lúcio de Castro